Já se passaram quase dez meses daquele domingo escaldante e histórico em Porto Alegre, quando Paul McCartney irradiou paz em território gaúcho. Foram quase três horas de apresentação que ainda fazem eco nas mentes e corações dos 50 mil presentes no estádio Beira Rio. Eu também estava lá, e compartilho aqui a matéria que fiz para a Guitar Player sobre o show e a emoção vivida.
"Desde o
anúncio do show de Paul McCartney em Porto Alegre, uma onda beatle se espalhou pela
capital gaúcha. Nos pontos turísticos da cidade era possível ver faixas e
sinais de carinho ao músico que, junto a Jimi Hendrix, é o canhoto mais famoso
e influente da história do rock. Prova do carinho do público com McCartney foi
a venda meteórica dos ingressos, que em poucas horas se esgotaram.
A
última passagem do ex-Beatle pelo Brasil foi em 1993 e a expectativa pelo seu retorno
se confirmou no dia do show, tanto que mais de 72 horas antes de Paul McCartney
subir ao palco, filas já tomavam conta do estádio Beira-Rio, local onde o
músico se apresentou. Sem dúvida, Porto Alegre nunca tinha visto algo parecido
antes, até que às 21:07, cinqüenta e dois mil fãs puderam ver um beatle ao
vivo. E Paul McCartney abriu o show com Venus
and Mars, Rock Show e Jet, exatamente nos mesmos moldes da turnê Over America, que realizou com os Wings
na metade da década de 70. No baixo de Paul, precisão e uma competência
assustadora, e nas guitarras de Rusty Anderson e Brian Ray, timbres perfeitos.
Em Letting
Go, Brian, que geralmente faz as bases de guitarra, se
mostrou um excelente solista. Com uma Gibson Les Paul Goldtop 1957 em mãos,
arrancou aplausos durante o belíssimo solo da música. Nos riffs, ao decorrer do
show, também foi impecável. Durante o show, Brian alternou entre a Les Paul,
uma guitarra Gretsch, além de violões Gibson e Taylor. Os amplificadores foram
dois Marshall JTM-45. Atualmente, Brian carrega consigo o rótulo de um dos
grandes músicos de estúdio e apoio dos Estados Unidos.
Já
Rusty Anderson mostrou carisma, boa técnica e um timbre que deixou o público de
queixo caído. De sua Gibson ES-335 1959 e de seus amplificadores Divided by 13, saiu a maioria dos solos
da noite, alguns sendo fundamentais na história da guitarra elétrica, como o de
Something, em que Paul McCartney
toca Ukelele, instrumento havaiano muito usado por George Harrison. É
interessante observar que McCartney trata os músicos no palco como integrantes
de sua banda, não deixando-os como meros coadjuvantes.
Paul mostrou que não é apenas genial como
compositor, mas também como instrumentista. Além de tocar baixo na maioria das
canções, ele mostrou extrema competência no piano e na guitarra, fazendo um
solo inspirado em Let Me Roll It, que teve até um trecho de Foxy Lady, de Jimi Hendrix.
No
show de quase três horas de duração, McCartney tocou um vasto repertório capaz
de emocionar fãs de todas as idades, indo de All My Loving, do segundo disco dos Beatles, de 1963, até músicas
mais recentes, como a bela Dance Tonight,
em que Paul
mostrou competência também no bandolim. Em Blackbird,
o ex-beatle ganhou a companhia de uma lua cenográfica no palco e emocionou a
todos com uma de suas canções mais bonitas, em um dedilhado que fez o estádio
inteiro cantar e assoviar cada verso. Como em todo o grande show que se preze,
também teve pirotecnia, dessa vez em Live and Let Die, em que explosões
acompanhavam cada riff de guitarra.
Mas
para os amantes da seis-cordas, a cereja do bolo foi The End, música que encerra o disco Abbey Road, de 1969, e também
foi a última no show de Porto Alegre. Nela, Paul, Rusty e Brian presentearam a
plateia mais uma vez, agora com uma jam session em que os três músicos
empunharam guitarras para fazerem solos alternados.
Cada
um dos cinqüenta e dois mil espectadores que estiveram no Beira-Rio teve uma
razão pessoal para ir assistir Paul McCartney, mas a sensação coletiva após o
show foi uma só: ver um beatle de perto é uma experiência única, capaz de mudar
para melhor um pedaço da vida de qualquer ser humano que tenha na música uma
companheira para todos os momentos".
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