domingo, 25 de maio de 2008

Estrelato?! Não...seria muita pretensão


Despretensioso. Talvez esse seja o melhor adjetivo para qualificar Tom Petty. Ao longo de mais de três décadas, o cantor e compositor nunca tentou duelar com Dylan e Young, duas referências obrigatórias para quem vai ao microfone com violão em punho e gaita pendurada no pescoço. Surgido nos Estados Unidos, na metade dos anos 70, também evitou roubar os holofotes de seu (teoricamente) rival imediato: Bruce Springsteen. Mesmo assim, sem maiores pretensões, Tom Petty, acompanhado de sua banda, os Heartbreakers, empilhou canções nas paradas de sucesso dos norte-americanos. A identificação com a música ianque e a devoção a Dylan podem ter sido prejudiciais para o artista em termos de projeção mundial. De qualquer maneira, a canção Free Fallin’ ainda é um hino e presença obrigatória em qualquer coletânea 80-90’s. Há alguns anos parado, Tom Petty voltou, mesmo que de maneira tímida, às lojas de discos. Em 2005, participou da trilha sonora de “Tudo Acontece em Elizabeth Town”, do diretor Cameron Crowe, um admirador confesso do compositor. Em 2006, Petty lançou “Highway Companion”. Disponível em catálogo nacional, o disco traz um apanhado de doze belas canções, todas na linha songwriter, de um senhor beirando os sessenta anos de idade. Destaque para a bucólica Square One, que já havia sido a melhor faixa na trilha de Elizabeth Town. Indicado para domingos ensolarados e passeios estradeiros, “Highway Companion” é mais um capítulo na vida desse artista que tem o carinho de muitos, porém, o fanatismo de poucos. Afinal, isso seria muita pretensão.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

A resposta? Está soprando...com o vento...


Sexta-feira, 36º no termômetro da praça de São Borja, cidade que faz fronteira entre Brasil e Argentina. Cinco da tarde do dia 14 de março de 2008. Exatamente nessa hora encerrei meus afazeres da semana. Ao entrar no escritório em que eu trabalhava na época, entrei no MSN, apenas para falar com alguém da minha família, namorada ou algum amigo perdido. Eis que pisca uma janelinha. Era um camarada meu que passava férias em Buenos Aires. O cidadão me convocou para o evento do ano na capital portenha. Show do Bob Dylan. O convite foi algo do tipo: "estou indo comprar os ingressos. Tu vens?". Enfim, não havia como recusar. Fui em casa, recolhi duas mudas de roupa, coloquei em uma mochila, peguei uns trocados e embarquei num ônibus rumo a Buenos Aires.
Chegando lá no dia seguinte, nada como um passeio pelas praças cheias de vagabundos. O clima inspirava e parecia prenúncio de uma noite inesquecível. De tarde, rumamos de metrô, taxi e ônibus em direção ao estádio do Vélez Sarsfield, local do show. A apresentação do velho menestrel era às nove da noite. Meia horas antes, conseguimos entrar no estádio. Ficamos eufóricos, eu, meu amigo Eduardo, além de dois amigos que fizemos no hotel, um uruguaio fanático pelo Peñarol e um argentino tão gente fina que parecia ser falsificado.
As luzes apagam, a platéia se empolga e Dylan sobe ao palco. Monossilábico, como sempre, ele ataca a guitarra. "Rainy day woman" abriu o show. Os olhos lacrimejaram com o coro da platéia, que, aos berros dizia: "everybody must to get stoned". Algumas lindas canções do disco Modern Times foram apresentadas em um volume bem baixo, mostrando a encantadora fragilidade da voz de Dylan. Uma banda muito competente o acompanhou, com destaque para o baixista Tony Garnier, que já transcendeu o limite de músico de apoio, sendo um parceiro de longa data do velho Bob. Clássicos vieram aos borbotões. "Masters of War", "Just Like a Woman"..."Like a Rolling Stone". A cada introdução, cada letra mudada, cada melodia improvisada fazia eu lembrar da minha história com o artista que eletrificou a poesia. Lembrei da primeira fita cassete com canções de Bob, que escutei até o cabeçote do meu som pifar. Lembrei de um disco de vinil que afanei do acervo de uma rádio e guardo até hoje como um troféu. Para encerrar o show, Dylan trajando um chapéu de vaqueiro sulista se posicionou em frente ao teclado, sacou três acordes e tocou "Blowin' in the wind". A ausência da canção nas apresentações no Brasil causou polêmica até com figurões da política. A presença da canção no repertório argentino soôu como uma canção de ninar.

Sentado à beira do caminho


Sim, estamos em maio de 2008. Quarenta anos após as revoluções de 1968. Cinco meses sem postagens minhas por aqui. Confesso que este post tem um tom confissional, quase como um diário (embora o propósito do baú não seja esse). Às pessoas que, por vezes, dão uma espiada no que escrevo aqui, peço as mais sinceras desculpas. Desde o dia que postei meu último texto, uma série de coisas aconteceram , idas e vindas, encontros e desencontros. Mudanças se tornaram rotineiras. Desde janeiro, morei em três cidades diferentes, conheci um número impressionantes de pessoas e, cheguei a conclusão de que, realmente nenhum dia é igual ao outro, ainda mais quando se é jornalista, como eu.
Enfim, hoje estou morando em Santa Cruz do Sul, trabalho na TV Record, após ter saído da RBS e, cada vez mais, me sinto privilegiado por poder sentar à beira do caminho, prosar com o universo e ser feliz assim, de maneira simples, como a vida deve ser... pelo menos a minha.